Uma análise dos 12 pontos apresentados pela Prefeitura para a conclusão do Marrecas

O Jornal Pioneiro, na edição de 11 de janeiro, publicou as “12 justificativas da Prefeitura” para a conclusão da Barragem do Marrecas. Mas como o objetivo do jornal não é informar e sim fazer propaganda, nem se deu o trabalho de analisar os pontos.


Diferente de fazer o jogo político que nosso diário está fazendo, analisamos ponto por ponto as justificativas apresentadas pela prefeitura e abrimos o debate para os nossos leitores. Queremos, aqui, fazer a discussão que a mídia caxiense não fez.

1 – Planejada desde 1960

A primeira justificativa é que a obra foi planejada há muito tempo, ou seja, não seria algo do governo Sartori e sim que transpassaria os governos. Porém esse é um péssimo argumento. De 1966 para cá houve muitas mudanças, seja na lei ambiental, seja na tecnologia. Itaipu, construída nas décadas de 1970/1980, praticamente não enfrentou resistência (tá certo que quem reclamasse levava porrada), mas hoje a Belo Monte, que também é de grande porte sofre dezenas de questionamentos e teve que fazer bem mais medidas contra os impactos ambientais que a Itaipu. Portanto muita coisa mudou.

2 e 3 – Crescimento Acelerado e 10 ligações de água por dia

Aqui há desde exercício de futurologia até má uso dos dados. Primeiro é fato que Caxias está crescendo numa média maior do que no Brasil mas o que garante que esse crescimento continue assim? O próprio IBGE já constatou que diminuiu em 1 pessoa a média das famílias. Também é dito que que Caxias aumentou 80 mil pessoas em 11 anos e que a água chegou a mais de 100 mil pessoas no mesmo período. Juntando os dois dados percebe-se que uma quantidade de quase 20% já era morador e recebeu água encanada pela primeira vez esse ano. Outro dado que pode gerar confusão é achar que cada ligação de água é composta por uma família de 3 pessoas, isso não é verdade! Faz pelo menos 4 anos que o número de famílias que obteram a casa própria é enorme. Somente em 2011 o número de projetos liberados para construção em Caxias foi 20% maior do que em 2011.

4 – Mais água tratada

O Samae perde 61%, segundo dados de 2009, de toda a água tratada. Então dos 1448 litros por segundo que são tratados somente 560 chegam realmente as residências. Com a entrada em funcionamento da nova estação de tratamento em Morro Alegre (que iria tratar a água do Marrecas), chegaríamos aos patamares atuais, isso se reduzisse as perdas. O próprio Samae divulgou, no começo do ano, que uma das ação contras as perdas, a troca de hidrômetros velhos, atingiu a troca de 300 aparelhos. São feitas 20 ligações por dia e o Samae trocou apenas 2 hidrômetros antigos por dia. Isso está muito, mas muito aquém do que necessitaria.

5 – Estudos técnicos

Ninguém fala mas houveram dois estudos técnicos para o Marrecas. Um pela Polar Ambiental e outro feito pela UCS. O da Polar Ambiental apresentaria, segundo estudos de outra consultoria, feita pelo Biólogo Sérgio de Araujo, apontava o Marrecas como terceira alternativa. Porém a licença ambiental foi pedida para a área atual. A própria licença na Fepam está sendo questionada pois teria sido feito uma “canetaço” por um CC do governo Yeda.

6 – Controle e preservação do meio ambiente

Isso é o básico. O questionamento da ONGs é que ninguém está vendo esse controle e essa preservação. Você está?

7 – Transporte por gravidade

A água viria até a entrada de Caxias utilizando gravidade e com isso economizando eletricidade. No nosso entender isso é obvio e não é ponto para a conclusão da obra.

8 – Prevenção para mudanças climáticas

A preocupação é correta a solução, nem tanto. Represar água é importante, claro, mas isso tem que gerar o menor impacto ambiental possível. Uma barragem afeta o clima da área onde ela está construída e também modifica o fluxo dos rios (diminiu o fluxo onde está a barragem e aumenta onde a população descarrega o esgoto). É exatamente por esses motivos, a pouca atenção ao meio ambiente, que vivemos mudanças climáticas.

9 – Suprir a falta de água

A água não chega em alguns bairros pois não há rede para levar ela para lá, não por que falta nas represas ou nas estações de tratamento. Se a justificativa do Samae fosse verdade faltaria água em bem mais bairro do que em dois. Outra coisa. O Desvio Rizzo e o Santa Fé (justificativa do Samae) serão atendidos pelo Marrecas ? Parece que não.

10 – Modernização da Rede

O próprio Samae diz que vai receber R$ 18 milhões do PAC2 a fundo perdido (sem ter que devolver), para modernização e ampliação da rede. Isso pode, e deve, ser feito com ou sem a represa.

11 – Investimento

Esse é o pior argumento. A previsão inicial de gastos era de R$ 120 milhões. Até o momento foram gastos R$ 187 milhões (60% a mais) e pode chegar a R$ 240 milhões. O Samae é muito ruim de orçamento e está gastando muito, mas muito mais do que o previsto. Isso, no mínimo, deveria ser investigado.

12 – Benefício a toda a população

Caxias está longe de entrar em fase crítica de abastecimento. Falta é planejamento. Se desperdiça muita água (seja pelo próprio Samae, seja pela população). Informações recentes apontam, inclusive, que grande parte da água do Marrecas seria usada pela indústria. Marcopolo e a Randon estão ampliando suas plantas fabris para a região.

No final disso tudo sabemos que a decisão que acontecerá, na justiça, hoje (17/01), pode não ser técnica.O que se está fazendo é construir uma ideia de que já se gastou muito e não tem mais jeito. Mas se houve gastos e esses gastos foram irregulares, deve ser apurados quem são os responsáveis.

Caxias está perto de ter um grande sumidouro de dinheiro, que será usado como troféu eleitoral. E será esse o seu maior uso.

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