Responsabilização

Texto do escritor Luis Fernando Veríssimo publicada na Zero Hora de 01/03.

O Cristopher Hitchens disse certa vez que fizera uma promessa: não leria mais nada escrito pelo Henry issinger até que fossem publicadas suas cartas da prisão. O Hitchens já morreu, o Kissinger continua escrevendo (seu último livro é sobre a China) e são poucas as probabilidades de que venha a ser julgado, o que dirá preso, pelo que aprontou – no Chile e no Vietnã, por exemplo. Sua posteridade como estrategista geopolítico e conselheiro de presidentes está assegurada, ele morrerá sem ser respnsabilizados por nada e não serão seus inimigos que escreverão seu epitáfio.

O juiz espanhol Garzón, aquele que mandou prender Pinochet, estava mexendo com o passado franquista da Espanha, também atrás de responsabilização, e bateu de frente com a reação. Recorreram a um tecnicismo de legalidade duvidosa para barrá-lo. Lá também se invoca uma Lei da Anistia para impedir a investigação dos crimes da ditadura. Anistia não anula responsabilização. A partir de Nuremberg que julgou a cúpula nazista no fim da II Guerra Mundial, passando pelos julgamentos de tiranos em cortes internacionais desde então, o objetivio buscado é a responsabilização, que não tena nada a ver com retribuição, vingança ou mesmo justiça. Até hoje discute-se a legalidade formal, de um ponto de vista estritamente jurídico, dos processos em Nuremberg, mas era impensável, diante da anormidade do que tinha acontecido, e sób o impacto das primeiras imagens dos corpos empilhados nos campos de concentração nazistas recém liberados, que eles não eles não se realizassem. Alguma forma de responsabilização era uma necessidade histórica. Com alguma grandiloquência se poderia dizer que a consciência humana a exigia

A tal Comissão da Verdade que se pretende no Brasil responderia à mesma exigência histórica, além de necessidade de completar a história individual de tantos cujo destino ainda é desconhecido. A julgar pela rapidez com que, aos primeiros protestos de envagélicos e bispos católicos, o Gilberto Carvalho correu para lhes dizer qua posição do governo continuaria retrógrada como a deles, pode-se duvidar da disposição do governo para enfrentar a reação que virá, como na Espanha do Garzón, ao exame do nosso passado e à responsabilização dos seus damandados. Vamos torcer para que, neste caso, a espinha do governo seja mais firme.

Pois, sem responsabilização, as histórias ficam sem fim, soltas no espaço como fiapos elétricos, e o passado nunca vai emobra.

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