Que muro é este, Prefeito?

Texto de Antonio Vicente Martins*

As noventa famílias atingidas pelo incêndio que atingiu a Vila Liberdade, no entorno da Arena do Grêmio estão desamparadas. A área que se tornou um objeto de desejo da especulação imobiliária está sendo cercada pela Prefeitura de Porto Alegre sem que as famílias que ocupavam o terreno há muitos anos recebam qualquer garantia de que continuarão ocupando o lugar que lhes é de direito.

O poder público, com letras minúsculas, que NUNCA (COM LETRAS MAIÚSCULAS)se preocupou com as famílias que ocupavam aquele terreno em condições precárias e quase desumanas, está sendo ágil em cercar o terreno para impedir que volte a ser utilizado por aqueles que ali estão há tantos e tantos anos.

E qual a agilidade para dar solução de moradia para os que foram atingidos pelo incêndio? Qual a transparência para apresentar propostas para a sociedade para aquelas noventa famílias que estão desabrigadas?

Foram noventa famílias atingidas e que perderam todos os seus pertences. Pior, foram noventa famílias de baixa renda que perderam tudo. Mas, tudo mesmo.

Estas famílias, meu amigo Fortunatti, exigem respeito e dignidade. Aliás, eu também exijo respeito e dignidade para estas famílias.

Conheço o Prefeito Fortunatti desde os tempos da Faculdade de Direito da UFRGS. Sei que ele tem uma história de lutas ao lado dos trabalhadores e das classes populares. Então, não posso acreditar que ele não esteja envolvido de corpo e alma na solução para estas famílias.

E a solução não é de colocar os atingidos em casas de passagem. A solução não é de propor um aluguel social por seis meses, sem nenhum compromisso de reconstrução das casas atingidas pelo incêndio. A solução não é cercar a área.

Aliás, porque cercar a área?

Eu não quero saber do muro, Prefeito. Eu quero saber de solução que tem que ser dada pelo poder público e tem que ser dada ontem. As famílias atingidas não podem ficar sem solução. A solução tem que respeitar os seus direitos.

Noventa casas foram queimadas, é como se fossem dois quarteirões inteiros de casas queimadas. E qual a resposta da Prefeitura? Cercar o local? Mas, para que o cercamento? E as pessoas que estão desabrigadas? Qual a resposta da Prefeitura? Qual a solução do problema?

O Prefeito que é tão preocupado com os animais abandonados e que são maltratados, tenho certeza, está concentrado em encontrar uma solução para estas famílias de seres humanos que estão sem lugar para morar e sem qualquer solução para suas vidas. Elas hoje só tem um muro.

Mas, que porra de muro é este, Prefeito?

Antonio Vicente Martins é advogado

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