Ensino Politécnico gera protesto em Caxias

Um grupo de mais de mil estudantes realizou um protesto na manhã de ontem em Caxias do Sul. A pauta era o novo Ensino Politécnico que começou a ser implantado, ano passado, nas escolas de ensino médio do Rio Grande do Sul. A discussão sobre o ensino politécnico, em si, é bastante longa e já está sendo preparada pela nossa equipe.

Falemos então do ato.

O ato começou de manhã cedo na Praça Dante Alighieri. Em caminhada os estudantes se dirigiram até a 4ª Coordenadoria Regional de Educação, 4ª CRE. Os manifestantes queriam que a Coordenadora, Eva Márcia Borges Fernandes, descesse para falar com todo mundo. Dois assessores da coordenadora desceram para fazer uma comissão de alunos para sererm recebidos por ela. No meio do impasse um limão (que não serviu para transformar tudo numa limonada) atingiu um dos vidros da coordenadoria e o diálogo acabou.

Pelas redes sociais a grande maioria das pessoas, que participaram do ato, condenaram a atitude do arremessador maluco. Pela mesma rede os estudantes denunciaram agressões e abusos por parte da Brigada Militar.

Uma estudante relatou que um policial passou com a roda da moto no seu pé e de várias outras pessoas que estavam do seu lado. Outro manifestante contou o seguinte diálogo quando um policial empurrou alguns manifestantes:

Estudante: "Vai com calma ai meu"

Policial: "Aqui não tem calma"

Estudante: "Tu vai chegar batendo?"

Policial: "Quer ver?"

Outros estudantes afirmam que os policiais bateram neles com os cassetetes. Esse tipo de atitude é inaceitável por parte das forças de segurança. Mesmo que um vidro tenha sido quebrado, a reação não foi proporcional ao fato. Todos os relatos demonstram que não houve maiores atos de violência por parte dos manifestantes.

Outro fator que chamou a atenção no ato foi sua forma de organização. Essa manifestação tem facetas diferenciadas.

Uma delas é a organização via rede. Estudantes de diversas escolas se organizaram, via Facebook. A página do evento contou com mais de 1500 confirmações. Número que ficou próximo de ser atingido, o que é incomum nesse tipo de organização. Manifestantes organizados dessa forma não tem uma direção única, no sentido de liderança, então não adianta querer fazer comissões com os líderes, eles nã existem na prática. A liderança é diluída entre a massa. Isso para o bem ou para o mal. A inexistência de pessoas com mais experiência em protestos ou em organização de movimentos pode gerar a perda de controle do ato e descambar para a violência. Essa experiência foi aprendida a duras penas pelo movimento contra o aumento das passagens de ônibus em Porto Alegre.

Outra faceta é a inexistência do protagonismo dos Grêmios Estudantis. Mesmo que alguns estivessem presentes não foram eles que lideraram a manifestação ou, pelo menos, quem falava e está falando sobre o ato, não cita os Grêmios Estudantis. Isso é uma dura realidade atual nas escolas. A maior parte delas não tem Grêmios Estudantis e onde eles existem poucos deles tem autonomia. É bastante comum diretorias serem fortemente tuteladas pelas direções de escolas e a autonomia da entidade ser controlada pelos diretores de escola.

Outro lado desse triângulo é a forte influência de professores junto a organização dos protestos. Nenhum problema dos professores realizarem protestos, ou até serem solidários às lutas dos estudantes. A questão determinante é quando eles estão quase em posição de comando. Acompanhando a página do protesto pelo Facebook vemos professores "querendo dar a linha" (para usar o politiquês), tendo como objetivo a oposição ao Governo do Estado. Vemos também professores interessados eu auxiliar no debate e fomentar massa crítica ampliando o debate e a construção de consciência. É de salientar também a "liberação" dadas pelas direções de escola para que os estudantes participassem do protesto. Com as escolas tão cheias de regras, grades e regramentos restritores é de se surpreender que tenha sido tão fácil sair das escolas. Que bom que fosse sempre assim.

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