Ato em Porto Alegre mostra forte divisão entre manifestantes
Leitor do Polenta News publicou um relato sobre a manifestação ocorrida em Porto Alegre na noite de quinta feira, 27. Transcrevemos aqui o relato, que era em quatro partes, pois mostra uma mudança significativa no centro dos organizadores do movimento na capital.
Parte 1 – A praça
Deixo aqui minha versão sobre os acontecimentos. Versão de alguém que estava presente. Esse ato, diferente dos outros 5, não começou em frente a prefeitura de Porto Alegre. A concentração era a Praça da Matriz, a nossa "praça dos três poderes".
Diferente das outras, também, foi o fato de que não havia nenhuma marcha marcada. A proposta dessa vez era fazer um ato show. O clima era de bastante tranquillidade, bem diferente do que foram alguns dos atos anteriores que tinham uma turba enfurecida, mascarada, com um discurso reacionário de direita. A foto mostra a galera que estava junto ao caminhão de som.
Nesse grupo se juntavam uma grande parte do movimento popular organizado, ou não, com seus cartazes, suas pautas, bandeiras, faixas, etc. Quase nenhum mascarado!
No centro da praça se concentrava um outro grupo. Esse muito diferente. Quase nenhum cartaz, alguns portavam bandeiras anarquistas (mas é difícil dizer nos dias atuais se são anarquistas mesmo), e centenas de mascarados.
Até que numa hora esses mascarados começaram....
Parte 2 – O Racha
A quem interessa gastar tanto dinheiro para mandar uma mensagem através de um helicóptero? |
Foi nesse momento que o povo concentrado no meio da praça marchou em direção ao caminhão de som. Pela primeira vez em dezenas de protestos que eu já fui na vida alguém resolveu protestar contra um banda que tocava, de graça, com letras politizadas, num ato. Essa turba bradava "Ato não é Festa!". Mas o que é então? Caminhar sem rumo pelas ruas da cidade feito barata tonta?
Com alguma habilidade de quem estava no microfone e com muito discurso quem compunha o bloco principal do ato disse "Quem quiser fazer marcha que faça". E esse grupo começou a recuar para sair em marcha da praça.
Porém não foram tranquilamente muito longe...
Parte 3 – O confronto
Não andaram 50 metros e começaram os estouros de rojão. Acreditem há muita diferença entre o som de um rojão e de uma bomba de efeito moral. Um rojão, dois, três, quatro, e uma bomba de efeito moral. Ai a correria em direção contrária.
Nesse momento a coisa ficou complicada. A praça estava cercada em 3 de seus lados o que criava dois cantos sem saída, eu estava em um deles. Na minha opinião a Brigada, se quisesse cercar alguma coisa deveria ser os prédios públicos e não a praça pois assim acabou encurralando os manifestantes.
A tensão aumentou na praça mas não a violência. Depois do primeiro confronto um arrastão de encapuzados seguiu pela Borges de Medeiros em direção à Cidade Baixa. Essa turba não tinha critério, não era nem depredação, nem vandalismo, era assalto mesmo.
Além desse grupo formou-se um com o Bloco de Lutas que rumou até o Largo Zumbi dos Palmares onde depois se dispersou....
Parte Final
Aqui segue uma opinião muito pessoal.
O Bloco de Lutas tem uma grande crise interna. A forma de organização inicial, horizontal, colaborativa, não consegue mais dar resposta a infiltração de pessoas que são alheias a causa e tem como objetivo desestabilizar a cidade.
As máscaras que antes protegiam os militantes de ação direta, que tem como alvo o sistema (financeiro e político) e até a reação contra a violência policial é a mesma que encoberta bandidos que tem como objetivo saquear loja de tênis, celular e roubar rádio de carro.
Como o movimento social pode incorporar essa nova forma de organização social e impedir que os VERDADEIROS oportunistas tomem conte dos protestos que tem uma pauta de vanguarda, progressista e de avanço social?
Essa é a pergunta que não quer calar.
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