O discurso fácil e retrógrado da CIC


Os “líderes” da Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul tem uma capacidade incomum de falarem bobagem. Representantes da mais alta classe do capitalismo retrógrado, que levou o país para o buraco nos tempos do neoliberalismo, ainda se acham na obrigação de cobrar políticas governamentais, mesmo não explicando, por exemplo, por que não reduzem seus preços quando são retirados os impostos.

Quando falam de economia são um desastre, mas quando falam de políticas sociais são uma calamidade. Exemplo é a fala de João Paulo Reginato na reunião que teve a presença do Secretário Estadual de Justiça e Direitos Humanos, Fabiano Pereira (PT). Ele disse, como está publicado no Pioneiro de hoje:


“Nos Estados Unidos, 1,5 % da população está na cadeia. No Brasil, 0,3%, Se colocar 1% dos gaúchos na cadeia, os outros 99% poderão sair às ruas. Por que em vez de mais policiais, mais automóveis, mais o diabo a quatro, não se gasta em mais cadeia? Quantas cadeias o senhor inaugurou e quantas vai inaugurar?”

Primeiro grande erro. A questão prisional é com outro secretário, o da Segurança Pública. Pereira estava lá para falar de medidas sócio educativas, que tem evitado a reincidência criminal de 9 em cada 10 jovens participantes.

Segundo grande problema por que a lógica é construir mais prisões? A lógica que obtém melhores resultados é dar condições para que as pessoas não virem criminosos, ou seja, investindo cada vez mais em políticas sociais (educação, emprego, renda, cultura, esporte, lazer) para evitar o ingresso no crime.

Apavorante da fala de Reginatto é que ele já foi presidente da FUCS. A nossa universidade esteve nas mãos de alguém que acha que construir prisões é mais importante que construir escolas. Talvez seja por isso que espalharam câmeras de vigilância por toda a UCS (que, a propósito, não evitou os assaltos).

O modelo (?) americano


Terceiro, usar os Estados Unidos como exemplo é bem típico de quem enxerga o mundo sob o ponto de vista do colonizador. Qualquer pessoa civilizada no mundo considera o modelo prisional americano representante do atraso. São quase 4 milhões de presos e nem por isso os índices de violência diminuem. Os Estados Unidos tem as taxas de homicídio mais altas dos países desenvolvidos.

Os custos com prisões aumentaram 900% nos últimos 20 anos principalmente com o advento das prisões privadas, as chamadas Corrections Corporation. Não por coincidência havia quem defendesse esse modelo por aqui. As Corrections Corporation não são mais baratas, são mais caras! O tratamento brutal dos presos nas prisões privadas chegou a extremos tão escandalosos que até os texanos – onde se encontram alguns dos mais reacionários agrupamentos de extrema-direita – se assustaram com o descaramento e obrigaram as autoridades a rescindir, em 1998, alguns daqueles contratos.

O mapa da violência


O quadro no Brasil com certeza não é animador. As taxas de homicídio, é verdade, são altas. Se olhado em termos nacionais, entretanto, os índices vêm tendo uma tendência de queda nos últimos 10 anos. Um estudo da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) fez o levantamento das taxas de homicídio entre 1980 – 2010. Veja abaixo:


Em 2003 alcançamos o ponto mais alto da série histórica. De lá para cá, com alguma variação os índices estão caindo. Entretanto temos que olhar esses números com “outros olhos”.

O primeiro olhar tem que ser o da vítima.

A maioria são negros, 65%!

Em 86,2% dos casos seus algozes foram familiares ou alguém próximo.

Quando a vítima é mulher o parceiro ou o ex-parceiro respondem por 65% dos casos.

A maioria são jovens. As taxas de homicídio entre a população de 20 a 24 anos é de 60,9 a cada 100 mil habitantes que seria a terceira maior do mundo, se fosse um país, ficando atrás apenas de Honduras e El Salvador.

Por todos esses aspectos percebe-se que respostas simplistas servem apenas para oratória. A solução está em outro caminho. Somente com políticas públicas para setores mais fragilizados, e por consequência, alvos da violência é que poderemos viver em segurança.

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