Dissídio metalúrgico: proposta patronal não chega a reposição da inflação.

Setembro é a data-base para o dissídio dos metalúrgicos de Caxias do Sul. O sindicato dos trabalhadores e o sindicato patronal estão longe de chegarem a um acordo, que caso não prospere seguirá para justiça do trabalho definir.

O dissídio da categoria metalúrgica ganha contornos especiais numa cidade como Caxias que é um dos maiores polos metais mecânicos do país.

A proposta patronal é quase um afronte. Os empresário oferecem apenas 2% de reajuste para setembro e 6% de reajuste para janeiro de 2016, numa perspectiva de apenas reposição da inflação, que deve fechar o ano base em 8 ou 9%. Isso, em outras palavras significa perda salarial até janeiro, de 6 a 7%. Importante explicar que aumento de salário (o chamado ganho real) é todo ganho acima da inflação, abaixo disso é reajuste. Se o reajuste é abaixo do acumulado da inflação, isso significa que o salário diminuiu no que tange ao seu poder de compra. Portanto, a proposta dos empresários de parcelar a reposição inflacionária é, na prática, diminuir o salário dos trabalhadores.

O sindicato dos metalúrgicos, que em outros anos já estaria mobilizando sua base para greves, encontra resistência da categoria que esta acoada pelo terrorismo dos industriários. Todos os anos, a tática patronal é a mesma: assim que chega perto o dissídio, os empresários aproveitam para fazer as demissões e reorganizar seu quadro, demitindo trabalhadores de ganhos médios para logo adiante contratarem novos trabalhadores por salários menores, evitando assim grandes custos com indenizações. Essa prática é conhecida na gestão dessas empresas que aliam esses cortes, já planejados, com o terrorismo do desemprego, criando um clima para que o trabalhador sinta-se fragilizado em lutar por melhores salários, e, quiçá aderir a greves.

Ocorre que nesse ano o Brasil está sentindo os efeitos da crise internacional e as demissões estão sendo em maior número que o já esperado para o período. As projeções econômicas é de que o Brasil tenho uma retração no PIB de até - 2% e o desemprego chegue, até o final do ano, em 9%. Portanto, as circunstâncias realmente não são para grandes expectativas para os trabalhadores nesse ano. Por outro lado, o país já aponta para retomada do crescimento no último trimestre do ano ou o mais tardar para o início do ano que vem, o que por si só jã não justificaria a proposta patronal. Mais do que isso, os empresários incorrem em alguns erros de ma fé para não aumentar os salários: 1) não fazem a análise histórica e seriada da conjuntura econômica. 2) não levam em conta os recordes de lucratividade que suas empresas obtiveram nos últimos anos, o que poderia nesse momento pontual, absorver uma taxa menor de lucratividade preservando empregos, gerando renda e reaquecendo a economia. 3) desconsideram os incentivos governamentais, como os fiscais (como a redução por ano do IPI), ou então programas governamentais especiais de compras de ônibus escolares (Marcopolo), máquinas e patrolas (Randon). Vale lembrar, que todos esse incentivos são de alguma forma, mesmo que indiretamente, pagos pelos trabalhadores. 4) desconsideram as demissões em grande escala, já ocorridas, ou seja, já houve o ajustamento do quadro de funcionários. Enfim a discussão ainda está aberta, a princípio o SindiMetal não aceitou a proposta, mas é nítida a dificuldade de mobilização sindical para fazer esse enfrentamento.

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