Nunca existiu almoço grátis. Alguém sempre paga ou pagou a conta!

O que está em jogo no ajuste fiscal que o governo Dilma vem tentando aplicar é quem pagará a conta desse ajuste. Historicamente, os "ajustes" adotados no Brasil vieram sob a égide da cartilha neoliberal do FMI, que autoritariamente fazia seus "empréstimos" às custas da redução de políticas públicas e a diminuição da presença do Estado como regulador da economia. O modelo de desenvolvimento capitalista é e sempre será alimentado por crises cíclicas, em geral nos países periféricos do globo. A máxima de que: "para alguém ganhar outro tem que perder" é inexorável ao capitalismo. Os governos de Lula e o primeiro mandato de Dilma, conseguiram com políticas anticíclicas fomentar o mercado interno de massas e combater, ou aliviar, umas das piores crises mundiais já vistas, que atingiu países centrais do capitalismo como EUA e países europeus. Ocorre que essas políticas sociais de crédito e de consumo interno tiveram seu ciclo findado.

O governo não tem mais capacidade de garantir políticas sociais e fomentar o consumo, com isso a economia começou a desmoronar desacelerando. Consequentemente, a arrecadação do governo diminuiu e faltaram recursos para aplicar em gastos sociais, que por conseguinte não aquece o consumo e a economia, e assim o ciclo virtuoso de crescimento chegou a seu fim, agravados com os efeitos mesmo que tardios, da crise de 2008. Essa é uma avaliação quase unânime dos economistas sérios do país, sejam eles mais progressistas ou sejam eles mais conservadores. As diferenças residem justamente nos caminhos que o governo deve tomar, que para complicar ainda mais, necessitam da aprovação do congresso nacional extremamente conservador e hipócrita.

No seio do governo, há nítida disputa entre um setor mais conservador e neoliberal, aliado aos ricos empresários e banqueiros, personificados na figura do Ministro da Fazenda Joaquim Levy e outro setor, os chamados "desenvolvimentistas", concentram a maioria do PT, ministros mais progressistas e parte dos movimentos sociais que ainda dialogam com o governo. Esse setor hoje começa a se personificar no Ministro do Planejamento Nelson Barbosa. Mas o que está em jogo mesmo? Está em jogo quem pagará a conta do "ajuste fiscal". O primeiro grupo, mais alinhado com Levy, defende o corte em programas sociais (bolsa família, minha casa minha vida) cortes na educação, na saúde e na previdência. Defendem juros altos e são contra qualquer tipo de imposto, ou seja, penaliza os que mais precisam, os beneficiários dos programas sociais, os que precisam de educação e saúde pública. Já o outro setor, mais alinhado a Barbosa, defende o corte mínimo nos programas sociais, a diminuição da taxa básica de juros e impostos que cobrem mais do mais ricos e menos dos mais pobres. 

A CPMF, da forma que está sendo proposta, taxa as movimentações financeiras. Portanto, quem movimenta mais e em maior volume paga mais, por isso tem um caráter progressivo. Historicamente imposto é quase sempre ruim, dada a qualidade dos serviços públicos oferecidos pelo Estado. No entanto, para dar continuidade a esses serviços públicos, mesmo que muitas vezes precários e garantir os programas sociais de transferência de renda, política de valorização salarial, empregos e crédito é necessário uma maior arrecadação do governo para enfrentar e sair dessa crise. Não há dúvidas que Dilma prefere que os ricos paguem essa conta. Mas a vida real não é tão fácil assim. A classe dominante tem a ideologia dominante, os rentistas, banqueiros e os ricos empresários, Tem aliados no Congresso, como a oposição, aliás, tem aliados no próprio governo como Levy e o vice presidente Michel Temer e tem a poderosa mídia que cumpre o papel de desinformar a população e propagar o terrorismo econômico chantagista. Não bastasse isso, a conjuntura é desfavorável a Dilma, que perdeu apoio popular e a todo momento é chantageada com o fantasma do impeachment, sem contar os desdobramentos da operação lava jato que atingem, mesmo que indiretamente, o governo. 

Por isso, Dilma está refém da burguesia, não consegue tomar decisões de enfrentamento à classe dominante. E do outro lado, os trabalhadores que elegeram Dilma contam com a minoria do congresso, com os movimentos sociais e com apenas setores de um governo de coalizão. Não serão decisões fáceis de serem tomadas, há uma grande confusão, deliberada pela mídia, no pensamento médio da sociedade, a hegemonia do discurso é contrária ao governo Dilma e ao PT. São tempos difíceis de uma luta de classes nua e crua. Você já se perguntou de que lado você está?

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