Artífices do impeachment perdem força com denúncias de corrupção

Fonte: El País/Brasil

A trama política que envolve o Brasil ganha, a cada dia, um novo capítulo dramático. Nesta quarta-feira, o país amanheceu com a denúncia de que o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU)que relata o processo que julgará as contas de Dilma Rousseff pode estar envolvido em um esquema. É o segundo nome com capacidade de levar ao impeachment da presidenta, suspeito de corrupção: o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, tenta se segurar no cargo após a procuradoria da Suíça informar que ele possui contas no país, algo que ele negava.

Reportagem publicada no jornal Folha de S.Paulo nesta quarta afirma que a Polícia Federal e o Ministério Público Federal descobriram indícios de que o ministro do TCU, Augusto Nardes, pode ter recebido 1,65 milhão de reais de uma empresa chamada Planalto Soluções e Negócios, que seria do sobrinho dele e da qual ele foi sócio até 2005. A empresa é investigada por suspeitas de comprar decisões do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, órgão que pertence ao ministério da Fazenda e julga recursos de empresas contra multas aplicadas pela Receita Federal. Os pagamentos ocorreram entre dezembro de 2011 e janeiro de 2012, quando Nardes já era ministro do TCU e estava desligado da empresa, afirma o jornal. O ministro nega conhecer os pagamentos.

Nardes é relator das contas do Governo Dilma de 2014, que serão votadas nesta quarta no TCU. Desde que assumiu o caso, ele deu diversas declarações de que há irregularidades nas finanças da presidenta. Nas últimas semanas, afirmou que o Tribunal estava prestes a fazer história, indicando que seria favorável à rejeição das contas por causa da manobra conhecida como “pedaladas fiscais” –para fechar as contas no azul, o Governo teria adiado uma série de repasses para bancos que fazem o pagamento de programas sociais; os bancos pagaram os beneficiários em dia, mas, em troca, o Governo pagou mais juros, levando a um gasto de mais de 40 bilhões de reais.

Caso as contas sejam reprovadas, a oposição ganha argumentos jurídicos para abrir o pedido de impeachment no Congresso. Até o momento, existem dez pedidos para que a presidenta deixe o cargo em tramitação na Câmara dos deputados, mas o que causou mais barulho, feito pelo ex-petista Helio Bicudo, deve ser arquivado por falta de sustentação jurídica.

A batalha da oposição pelo impeachment, no entanto, também ganhou um duro golpe na Câmara. O apoio a Cunha, responsável por decidir o que entra em votação na Casa, está diminuindo a cada dia. Nesta terça-feira, o jornal O Globo afirma que o PSDB e o DEM já tentam convencê-lo de deixar a presidência da Câmara por causa da informação de que a promotoria da Suíça confirmou que ele tem contas no país, algo que ele negava. O presidente foi citado na Operação Lava Jato por nomes que o acusam de envolvimento com os desvios da Petrobras.

Cunha nega e afirma que as investigações são “seletivas” e que ele é perseguido pelo Governo por sua atuação combativa na Câmara. Ele tem imposto uma série de derrotas a Rousseff, inclusive conseguiu evitar a votação da chamada pauta bomba nesta quarta-feira, pelo segundo dia seguido. Para os petistas, a estratégia de Cunha é acuar o Governo para livrar-se das acusações. A oposição tem sido duramente criticada por ainda apoiá-lo, mesmo diante de tantos indícios de corrupção, apenas para tentar emplacar o impeachment de Rousseff.

O PSDB, principal partido da oposição, já começa a enviar recados de que o desgaste a sua imagem não tem valido a pena. “Quando os meninos veem um filme de terror e sabem que alguém vai morrer, dizem, ‘fulano é carne morta’. Cunha é carne morta. Tomara que leve alguns pesos que serão bem levados”, disse Alberto Goldman, vice-presidente nacional do partido ao O Globo. O peso político dele, entretanto, ainda é muito grande. Se cair, resta saber quem ele conseguirá levar junto.

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