Mulheres se unem em ato contra violência policial e machismo em Porto Alegre

Débora Fogliatto/Sul21

A agressão policial denunciada por mulheres que organizavam a Primeira Feira do Livro Feminista e Autônoma, no último domingo (1), foi o estopim para o ato que reuniu centenas de pessoas nesta terça-feira (3) na Praça da Matriz, Centro de Porto Alegre. Embora a feira tivesse caráter autônomo e o grupo agredido seja composto por mulheres que afirmam não confiar na Polícia e no Estado para registrar um Boletim de Ocorrência, o protesto reuniu mulheres de todas as vertentes, muitas das quais defenderam que houvesse uma apuração estatal do ocorrido.

As militantes se reuniram em frente ao Palácio Piratini, denunciando o acontecido ao governo do Estado, que é quem comanda a Brigada Militar. Mesmo assim, havia menor presença de policiais observando e acompanhando o ato do que no protesto ocorrido na segunda-feira (2), que foi liderado pela própria organização da Feira Feminista. Já na noite de terça, a manifestação teve caráter de apoio e solidariedade a elas.


Entoando “a violência contra a mulher não é o estado que a gente quer”, as mulheres presentes no ato se revezaram ao microfone criticando a agressão, mas também mencionando a opressão sofrida pelas mulheres na sociedade, citando questões políticas e ideológicas. O protesto contou com militantes de diversos movimentos sociais, de juventude, LGBTs, partidos, e de variadas correntes feministas. Algumas mulheres também carregavam cruzes vermelhas representando os feminicídios no país e no Estado.

Os cartazes reforçavam que o protesto era sobre violência contra a mulher em geral: “Machismo mata todo dia”, “Nenhuma a menos”, “Nenhum minuto de silêncio! Uma vida inteira de luta” eram alguns deles, além de outros contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), que foi alvo de críticas dentre as que se pronunciaram no microfone. As falas também criticaram a extinção da Secretaria de Políticas para as Mulheres, criada no governo Tarso Genro (PT) e desmontada pela atual gestão.

“O Estado agrediu nossas companheiras que estavam fazendo um ato cultural. E nós somos agredidas todos os dias como mulheres”, afirmou Monique Prada, uma das organizadoras do ato. Algumas pediram ao Piratini que investigasse o caso, responsabilizando os policiais que participaram da ação, e criticaram o governador José Ivo Sartori (PMDB), acusando seu governo de machismo.

Uma manifestante também mencionou os nomes e causas de morte de diversas mulheres vítimas de feminicídio nos últimos meses, emocionando as pessoas presentes. Outras ainda criticaram a Brigada Militar, entoando “não acabou, tem que acabar, eu quero o fim da Polícia Militar”. Uma representante do Movimento de Mulheres Olga Benário apontou que “isso não é um caso isolado”. “Esse é o caráter da polícia. A mesma polícia que as espancou, bateu em servidores e professores, e é a mesma que mata na favela”, afirmou.

Da mesma forma, a militante da Federação Anarquista Gaúcha Lorena Castillo destacou que o ocorrido é semelhante ao cotidiano na periferia. “As mulheres são quem estão na luta. Não estou falando dos governos, porque em 2013 tinha um governo dito de esquerda e jovens foram agredidos pela BM. Queremos uma autodefesa feminista, lutar e construir desde a base”, defendeu.

Denúncia de agressão


Algumas participantes e organizadoras da Primeira Feira do Livro Feminista e Autônoma realizavam um ensaio artístico na noite de domingo (1) na praça entre as ruas Jerônimo de Ornelas e Santa Terezinha, no bairro Farroupilha, quando foram abordadas por dois policiais. Eles afirmam que vizinhos reclamaram que as jovens estariam fazendo “algazarra”. As vítimas afirmam que “eles filmaram e intimidaram as mulheres presentes que estavam falando com eles, o que gerou reações de proteção entre as mulheres, como se organizar para ir embora e filmar a situação”.

A partir daí, os policiais chamaram reforços — no relato da polícia, consta que estiveram presentes três viaturas — e os BMs teriam começado a agredir as mulheres. “[Eles] foram extremamente agressivos e marcadamente racistas desde o início e tentaram deter uma de nós de maneira violenta, o que desencadeou uma série de agressões físicas por parte da polícia das quais nove mulheres ficaram feridas, sendo que quatro gravemente e precisaram de atendimento médico”, relatam.

A Brigada afirma estar apurando as denúncias de violência. As mulheres que afirmam terem sido agredidas já procuraram auxílio jurídico, mas a princípio não devem registrar boletim de ocorrência. Na segunda-feira (2), as militantes organizaram um ato que saiu da Fera Feminista e foi até a Feira do Livro tradicional para denunciar o ocorrido.

Fotos: Guilherme Santos

Comentários

  1. Repressão Estatal que se reflete nas ações das polícias, " É mais uma dura resquício de ditadura...se acham autoridade neste tribunal de rua." O Rappa

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